A guerra russo-ucranina precisa ser compreendida sob a luz da Geopolítica, porque é a Ciência que estuda as relações internacionais e estratégias entre os estados. Uma discussão feita sem o emprego da Geopolítica prejudicará o entendimento das pessoas sobre a Guerra Russa-ucraniana e as consequências vindouras no cenário mundial.
Infelizmente, tem se notado discussões que beiram a torcida de futebol ou de Esquerda versus Direita, ignorando a Geopolítica, a Realpolitik. Evitar emprego da Geopolítica para o entendimento sobre o conflito Russo-ucraniano seria semelhante a ignorar Saúde Pública, Medicina e Biologia para a compreensão da Pandemia de covid-19. Então vamos para a análise sobre a evolução dos acontecimentos históricos e geopolíticos.
Com o fim da União Soviética, o surgimento de estados independentes e a dissolução do Pacto de Varsóvia em 1991, a OTAN, liderada pelos Estados Unidos, decidiu expandir sua zona de influência para o leste europeu. Enquanto a Rússia estava passando por uma enorme crise econômica e social, inclusive guerras civis na região do Cáucaso;
Acompanhando a expansão da zona de influência da OTAN no leste europeu, ocorreu a consolidação da União Europeia em 1993, então iniciou-se uma expansão do bloco europeu sobre os ex-países do Bloco socialista e países bálticos, que eram parte da União Soviética.
Ucrânia cede seu arsenal nuclear em 1996 no Memorando de Budapeste, e passa por reformas econômicas desastrosas de cunho neoliberal, enfraquecendo sua indústria bélica;
Tentativa de expansão da zona de influência da União Europeia e da OTAN na Ucrânia; houve o patrocínio de protestos políticos contra o governo pró-russo,Viktor Yanukovich, culminando no golpe de estado em 2014.
Em 2014, A Rússia reagiu imediatamente anexando a Crimeia e passou a financiar províncias com maioria étnica russa, na região de Donbass, eclodindo a Guerra civil ucraniana, com o intuito de impedir a entrada da Ucrânia na OTAN;
Consolidação de grupos neonazistas na Ucrânia, ao passo que foram assinados em 2014 o Acordo de Minsk II entre Ucrânia e as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, intermediadas pela Rússia.
Guerra civil na região de Donbass entre separatistas pró-russos e o Governo ucraniano consistiu em várias escaramuças até fevereiro de 2022;
A fuga norte-americana do Afeganistão que lembrava a fuga do Vietnã prejudicou a imagem do Governo Biden. Então o Governo Biden procurou reacender a disputa entre a OTAN e a Rússia pela Ucrânia. O intuito do Governo Biden foi mudar o foco do desastre de seu governo frente aos Talibãs e a crise de refugiados e mudar a atenção doméstica para uma nova crise.
Dia 22 de novembro, em resposta ao Governo Biden, o Governo Putin enviou tropas por toda a fronteira ucraniana, exigindo Garantias de Segurança.
Biden faz anúncios que a Rússia pretende invadir a Ucrânia demonstrando subestimar o Governo Putin;
Governo Putin ordena a realização de exercícios militares para encobrir a movimentação e preparação das tropas;
Encerra-se as Olimpíadas de Inverno na China e o Governo Putin recebeu resposta negativa de Jens Stoltenberg (OTAN), do governo Biden (EUA)e do próprio Governo Zelensky (Ucrânia) sobre as Garantias de Segurança;
A OTAN e os Governos norte-americano e ucraniano protelavam dar uma resposta, mesmo sabendo que essas Garantias de Segurança tinham características de um Ultimatum.
Dia 14 de fevereiro, sites do Governo Ucraniano sofrem ataques cibernéticos;
A Duma Federal russa aprova resolução no dia 15 de fevereiro de 2022, reconhecendo a independência de Províncias ucranianas como Repúblicas Populares de Lugansk e Donetsk, incluindo os territórios não ocupado pelos separatistas; Governo Biden promete auxiliar o Governo Zelensky;
Encontro de Munique de países membros da OTAN e da União Europeia discutem sobre sanções a serem aplicadas contra Rússia, no dia 19 de fevereiro;
Zelensky cobra a OTAN pela definição de um cronograma no dia 19 de fevereiro;
Dia 19 de fevereiro, Governo Putin acompanhou exercícios militares os quais acontecem há alguns meses próximos da fronteira Ucraniana;
Dia 21 de fevereiro, o Governo Putin reconheceu a Independência das regiões separatistas de Donbass como Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk;
Governo Putin autoriza Tropas russas iniciarem uma "Missão de Paz" nas Repúblicas Populares de Luhansk e Donetsk;
Dia 24 de fevereiro começa a Guerra russa-ucraniana, nome provisório para esse conflito. Putin alega que pretende desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia.
Inicia-se campanhas de desinformação realizadas pela OTAN e pela Rússia. Enfim a OTAN e a Rússia repassarão informações imprecisas sobre o conflito às agências de notícias.
A partir dessa série de acontecimentos listados, o leitor poderá compreender melhor todas as razões as quais culminaram na Guerra e sobre a evolução do conflito. As pioras das relações internacionais entre a Rússia, a Ucrânia, patrocinada pelos EUA, União Europeia e a OTAN.
Sugiro o leitor que acompanhe informações sobre o conflito em portais especializados de Geopolítica;
Quando o leitor se deparar com alegações do tipo "sou a favor da paz, sou contra a guerra" ou ser Pró-Rússia ou Pró-EUA, já saiba que aquela pessoa não entendem sobre o conflito, ao passo que há outras duas guerras acontecendo no mundo - a Guerra Civil do Iêmen, e a Guerra Civil Etíope, sem contar outros conflitos os quais retornam ao noticiário. Essas mesmas pessoas na maioria das vezes não sabem sobre o desenrolar desses conflitos e se informam através de veículos não especializados de Geopolítica, repletos de vieses.
A Paz se obtém por meios Geopolíticos. Poderá ser com Diplomacia, com dissuasão militar ou mesmo através de ofensivas militares. O emprego de Forças militares representa um meio para esse objetivo. Lembrando que qualquer análise sobre a guerra russa-ucraniana ou qualquer outro conflito como a Guerra Civis Etíope e Iemenita, devem ser feitas através de Geopolítica. O resto será propaganda!
Sugiro ao leitor que acrescente a essa lista de eventos para acompanhar a evolução do cenário geopolítico na Ucrânia e Leste Europeu. A dica será: fique de olho nos discursos e articulações da OTAN, EUA, Ucrânia e Rússia e lembre-se que haverá retórica nos discursos oficiais. Seja cético, verifique.
Profesor Wagno Sotero