O velho ditado popular diz que “vingança é um prato que se come frio”. Assim foi com João Dória e o PSDB. Nesta segunda-feira (23) o tucano anunciou que não disputaria mais a Presidência da República e melancolicamente sentenciou: “Entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB”. De fato, mesmo vencendo as prévias do partido sua derrota no próprio ninho era dada como certa.
Para compreender é preciso voltar a outubro de 2018. Uma reunião quente no núcleo duro tucano um nome sobressaia: traidor. Dória pedia uma autoreflexão no PSDB após derrotas do partido O alvo de suas críticas era Geraldo Alckmin que, ao interromper o discurso de Dória afirmou: “traidor eu não sou”.
O ex-Governador se referia ao balão que Dória deu em Márcio França (PSB), que era seu vice e candidato à reeleição, esperando apoio dos tucanos. Porém, mesmo afirmando que não disputaria eleição naquele ano, João Dória acabou se licenciando da Prefeitura de São Paulo para concorrer ao Governo contra o aliado. Para completar, disse que não apoiaria Jair Bolsonaro à Presidência, mas esse posicionamento não durou nem até o final do primeiro turno.
Aborrecido, Márcio França disparou: “ele explode quem fica no seu caminho. Ele não tem bandeira. A bandeira dele é João Dória”, afirmando ainda que “pouca gente vai ficar com ele”. Talvez uma premonição que se materializou agora, quatro anos depois. O ex-tucano piauiense, Sílvio Mendes, sequer quis receber o ex-Governador de São Paulo em Teresina alegando que ele traiu Alckmin e outros pessedebistas históricos. O ex-Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite foi pra cima e fez pressão, mas acabou perdendo por pequena margem nas prévias do partido.
Um dos últimos capítulos foi a briga com o Presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, que acabou sendo retirado da sua coordenação de campanha. Enquanto isso nas pesquisas Dória amarga de 1% a no máximo 5% de intenções de votos e não consegue agregar na composição de uma terceira via. Foi minado, fritado aos poucos e agora a Senadora Simone Tebet (MDB) deverá ser a escolhida para a missão, com um vice tucano, Tasso Jereissati ou o próprio Eduardo Leite.
Dória sai de cena desta eleição menor do que quando disputou o Governo de São Paulo. Mas, receberá o "afago" pelo gesto em favor da união da terceira via e pelo Brasil. Por outro lado, ficaram feridas, talvez menos espaço e amigos no ninho tucano. Como dizia Nelson Rodrigues: “Só o inimigo não trai nunca”.
Fonte: Wesslley Sales