Enfim, a alegria da Páscoa com a confirmação daquelas palavras: “Destruí este templo, e, em três dias, Eu o reconstruirei”. Sim, a ressurreição de Jesus é real, é vida nova. Mas, até aqui foram dias de dor e agonia com traição, prisão, seu flagelo e morte. Antes ainda, foram 40 dias no deserto, uma preparação para tudo que viria, cumprindo-se assim as escrituras. É sobre esse tempo de privações e meditações que fiz ao lado de Cristo que passo a relatar.
Em toda minha vida jamais havia me preparado para a Páscoa como em 2022. Cheguei a iniciar ano passado, mas fiquei no raso. Agora, exatamente no dia do meu aniversário, abracei o propósito de acordar todos os dias (exceto aos domingos) às 4 da madrugada para, ao lado de quase 180 mil pessoas (média), ser guiado nas contas do Rosário quaresmal pelo Frei Gilson Som do Monte. Tivemos uma companhia maravilhosa, a Virgem de Guadalupe, a qual passei a conhecer a história e reconheço verdadeiramente como um ícone da Santíssima Mãe de Deus a todos nós, mesmo que você não creia.
Além de trechos da Bíblia e do catecismo da igreja católica, meditamos sobre a vida e frases de santos católicos, como Santa Teresinha do Menino Jesus e São Francisco de Assis. Conheci os ensinamentos do bispo americano Fulton Sheen e o avassalador relato sobre a paixão, morte e ressurreição de Jesus através das visões da beata alemã Anna Catharina Emmerich. Foram dezenas de testemunhos de pessoas que encontraram cura, libertação e resolução de problemas que pareciam impossíveis.
O que posso afirmar é que nesta minha passagem por esse deserto quaresmal além das orações também abracei ainda mais a caridade e a penitência através do jejum. Me rendi à Cruz e nesta caminhada foram vários os momentos em que reconheci a miséria dos meus pecados e quase sempre estive em prantos. Outro ponto importante é que toda esta meditação levou-me, acredito, a melhor confissão de toda a vida.
Refletir profundamente sobre o Deus que esvaziou-se de si mesmo e se fez homem, vivendo como nós (menos o pecado) trouxe palavras de conversão, defendeu o amor e o perdão, garantiu vida nova e mundo novo a quem o seguisse é transformador. Compreender que a inveja levou Jesus à morte e que nem toda violência que lhe impuseram foram capazes de quebrar-lhe o espírito fortalece a nossa fé. Acreditar, como creio, que sua ressurreição nos repõe a esperança de um dia também comungar do mesmo céu a seu lado é libertador.
Cristo, em nenhum momento de sua passagem sobre a terra prometeu ou disse que seria fácil caminhar nos seus passos. Ao contrário, afirmou: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lucas 9). Essa cruz que Jesus falava sempre foi a de dor e sofrimento, mas também de nova vida, como de fato tudo se consumou. Ao reconhecer isso, também passei a olhar a missa de forma diferente em cada momento sagrado, atualizando o calvário, a santa Ceia na eucaristia.
Não sou o mesmo homem, asseguro, mas serei pecador até o fim dos meus dias. Porém, agora encontrei o caminho correto para não cair em desgraça e sonhando em poder contemplar a face luminosa de Cristo, vencer os desafios deste mundo e as tentações do Inimigo através da oração, caridade e penitência. Foram 40 dias cansativos, mas de grande conhecimento e ao final de alegria profunda. Já me preparo para em agosto fazer um novo retiro no deserto, desta vez com São Miguel Arcanjo.
Ah, você não acredita em nada do que foi dito ? Tudo bem. Te convido a juntar-se a nós e viver essa mesma experiência. É desafiadora, mas se você permitir, também vai te mudar.