Com o novo reajuste anunciado pela Petrobrás para gasolina (5,18% ) e diesel (14,2%), que passam a valer a partir deste sábado (18), não restou alternativa ao Presidente da República a não ser admitir publicamente o que ele e os que o cercam já sabem: “Tem uma legislação errada feita lá atrás em que você tem uma paridade do preço internacional”, afirmou Jair Bolsonaro em entrevista à Rádio Folha de Roraima, prometendo, finalmente, estudar rever o PPI que foi instituído por Michel Temmer em 2016.
O Presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP), que faz parte da tropa de choque de Bolsonaro, cobrou a renúncia do Presidente da Petrobrás. Enquanto isso o Presidente da República falava em articular uma CPI da Petrobrás. Estranho, porque como a União é acionista majoritária, seria o mesmo que investigar a si próprio após lucrar R$ 447 bilhões com a empresa de janeiro de 2019 até março deste ano.
Vale ressaltar que nos últimos meses já foram três Presidentes sacados do comando da Petrobrás e agora Jair Bolsonaro ameaça demitir José Mauro Ferreira Coelho. Ele passaria a ser investigado pela CPI, além de diretores e até mesmo o conselho administrativo, onde a maioria foi indicado exatamente pelo Presidente da República.
Mas, seria possível derrubar a PPI? Bastaria o Presidente editar uma Medida Provisória e, com essa canetada e apoio do Centrão, poderia verdadeiramente dar sinais aos brasileiros de que quer mudanças e não apenas afagar o mercado. Caso o Congresso rejeitasse a MP Bolsonaro pelo menos poderia dizer: eu tentei.
Mas, a real preocupação de Bolsonaro e de lideranças mais próximas, como políticos do Centrão, está na possibilidade de uma nova greve dos caminhoneiros. Isso complicaria muito mais o projeto de reeleição do Presidente, que tem níveis de rejeição e desaprovação do governo altos.
Além disso, colocar a população contra a Petrobrás é uma das formas de apoio à privatização da estatal, algo que vai de encontro a política liberal defendida pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes e,aos recente te reverberada por Arthur Lira. No passado, Bolsonaro criticava FHC por privatizações, agora quer tirar das costas um "problema".
A cortina de fumaça com ataques aos estados e culpando o ICMS pelos aumentos se desfez porque, ao invés da expectativa de redução no preço dos combustíveis após aprovado Projeto de Lei que limita de 17% ao imposto, o novo aumento mostra quem é o verdadeiro vilão. A análise é do economista Eric Gil Dantas, do Observatório Social da Petrobras, em entrevista ao Jornal Brasil Atual.
“A única forma de acabar com esses preços elevados é acabar com a política de Preço de Paridade Internacional (PPI), que faz com que o valor da refinaria simule uma importação. É como se fôssemos comprar gasolina no Golfo do México. Com o fim da PPI é possível manter receitas e vender para o mercado local. A Petrobras tem um papel social e não pode focar em distribuir bilhões de dividendos aos sócios, empurrando os maiores preços da história para o consumidor. Não enxergo nos projetos formas de solucionar o problema, principalmente o que retira o ICMS. Além disso, a proposta de fundo de estabilização para financiar a diferença de preço preocupa, porque você coloca dinheiro público para bancar a política de preço internacional. Não são projetos que atacam o verdadeiro problema e mantêm o lucro dos acionistas”, explica.
Fonte: Wesslley Sales