A década de 80 foi de fato um período onde a música brasileira, em seus mais diferentes ritmos, ganhou força popular. O carnaval baiano ainda não era o arrastão de três milhões de pessoas, mas produzia verdadeiras obras-primas. Blocos afros como Olodum, Filhos de Ghandi e Timbalada traziam muito mais que batidas diferentes e uma percussão forte. As letras eram um chamado à própria valorização da cultura negra e um grito contra o preconceito nascido no Pelourinho, antes mesmo do Brasil ter uma Lei contra a discriminação racial, sanciona apenas em janeiro de 1989 pelo Presidente José Sarney.
No carnaval de 1987 uma canção, cheia de ritmo fez sucesso com a Banda Reflexus. “Madagascar Oludum” trouxe um pouco da história de um país africano e sua influência no Pelourinho, simbólico para a Bahia por ser um local de castigo para escravos no Brasil colonial.
A rainha Ranavalona. Destaca-se na vida e na mocidade. Majestosa negra. Soberana da sociedade...
Alienado pelos seus poderes. Rei Radama foi considerado Um verdadeiro Meiji Que levava seu reino a bailar...
Bantos, indonésios, árabes Integram à cultura Malgaxe. Raça varonil Alastrando-se pelo Brasil…
E protestos, manifestações Faz o Olodum contra o Apartheid. Juntamente com Madagascar Evocando igualdade e liberdade a reinar…
Também em 1987, "Canto para Senegal" foi outra canção eternizada pela Banda Reflexus que trouxe para o Brasil a grandeza do povo negro, uma verdadeira aula de história.
Negros ilê-aiyê avançam pelas ruas centrais da cidade. Senegalesas mulheres vaidosas mostrando intensidade. Incorporadas num só movimento frenético do carnaval.
Caolak, Rufisque, Zinguichor, são as cidades do Senegal.
Ilê-Ayê ê ê... está nos torsos, nas indumentárias africanas. Lingüisticamente o francês na dialética união baiana.
Baobás árvore símbolo da nação. dos Deniakes, os Berberes, dinastia da região, Ilê Ayê Senegal...
Em 1988, Tatau (ex-vocalista do Araketu) e Paulo Moçambique compuseram “Protesto do Olodum”, um sucesso no carnaval daquele ano. Com profundidade chamava atenção para o a fome, a poluição e o quanto a elite brasileira se beneficia de tudo isso. Antônio Carlos Magalhães, ex-Governador da Bahia, determinou a expulsão de moradores do Pelourinho após o lançamento da música alegando que a área seria reestruturada.
Declara a nação, Pelourinho contra a prostituição. Faz protesto, manifestação.
E lá vou eu…
Brasil liderança. Força e elite da poluição. Em destaque o terror, Cubatão.
E lá vou eu…
Brasil Nordestópia. Na Bahia existe Etiópia. Pro Nordeste o país vira as costas.
E lá vou eu…
Foi uma rica época de letras, ritmos e conscientização social em forma de música. Aos poucos o Axé Músic e o Samba Reggae raiz deram lugar a canções dançantes, com rimas pobres e fáceis. Proliferaram bandas com seus refrões chiclete preparados para atender a coreografias quase sempre iguais como a da “boquinha da garrafa”, da “manivela”, “carrinho de mão”, e por ai vai….
Era o que faltava para o carnaval de Salvador bombar. Claro, a música produzida pelos grupos tradicionais permanece, mas perdeu espaço para um produto mais mercadológico, sem compromisso com absolutamente nada, a não ser o lucro e fazer da Bahia um dos maiores destinos para as festas de Momo, atraindo turistas de todas as partes do mundo, onde poucos podem pagar para desfilar nos principais blocos.
Como diria a canção:
E viva Pelô Pelourinho. Patrimônio da humanidade ah, Pelourinho, Pelourinho
Palco da vida e negras verdades...
OUÇA AQUI "MADAGASCAR OLODUM" (BANDA REFLEXUS)
y2meta.com - Banda Reflexus - Madagascar Olodum (Ao Vivo) (128 kbps).mp3
OUÇA AQUI "SENEGAL" (BANDA REFLEXUS)
y2meta.com - Banda Reflexus Canto a Senegal HD (128 kbps) (1).mp3
OUÇA AQUI "PROTESTO DO OLODUM" (BANDA MEL)
y2meta.com - Banda Mel Protesto do Olodum E La Vou Eu (128 kbps).mp3
Fonte: Wesslley Sales