O Brasil possui quase 17 mil km de fronteiras com nove países, além de divisa marítima que chega a 7.367 com o Oceano Atlântico.Bolívia e Paraguai são as portas de entrada de armas e munições que abastecem facções criminosas e o tráfico de drogas por aqui. Juntos, são quase cinco mil quilômetros fronteiriços com nossa nação. Mas, não são os únicos.
Vem dos Estados Unidos fuzis e rifles, tendo como corredor o Paraguai. Aliás, é deste país que vem as pistolas e revólveres, além de Argentina e Uruguai. Os dados são do Estudo Global sobre Tráfico de Armas de Fogo do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes. Bolívia, Colômbia e Suriname são rotas usadas para despejar armamento em São Paulo e Minas Gerais.
Como se vê, combater esse tipo de crime é complicado e requer estratégia conjunta com os demais países. Porém, o que se vê no Brasil é um discurso mais focado em armar a população que propriamente impedir que armas de fogo chegue nas mãos de criminosos nas pequenas, médias e grandes cidades. O próprio Presidente Jair Bolsonaro, quando esteve no Piau no último dia 30 de março afirmou:
“Nós flexibilizamos o estatuto do desarmamento. Hoje está muito mais fácil, ou menos difícil se comprar arma. Pessoal que é CAC (atirador, caçador, colecionador) tem direito a comprar fuzil no meu governo. Nós entendemos que em primeiro lugar a segurança de vocês parte de vocês mesmos. Não podemos admitir que apenas bandidos tenham armas em nosso país”.
Bolsonaro falava, claro, para os grandes proprietários de terras nos Cerrados piauienses, um estímulo a armarem-se para evitar invasões. De quebra, deixa à população a ideia de que ter uma arma de fogo garante proteção que deveria ser dada pelos órgãos oficiais de segurança pública, desde as guardas municipais, policiais estaduais e federais. Mas, porque não falar em usar Exército, Marinha e Aeronáutica com todo seu poderio, além de fortalecer o trabalho das policiais Federal e Rodoviária Federal nas fronteiras para buscar reduzir o tráfico?
Não tem como jogar para debaixo do tapete que esse é o tendão de Aquiles de todos os governos. Se por um lado o tráfico de armas abastece parte da criminalidade no Brasil, outra parte, são armamentos vendidos legalmente. Em setembro de 2021, apenas as empresas de segurança privada, perderam em torno de 12 mil armas somando-se os três anos anteriores.
Nestes três anos de governo Bolsonaro, mais que triplicou o acesso de armas de fogo, uma média de 153 mil novas unidades até o início de janeiro deste ano. O crescimento, em comparação com o triênio anterior chega a 225%. Parte deste equipamento bélico também alimenta a criminalidade. Vale lembrar que nem mesmo policiais podem assegurar sucesso ao revidar um ataque. Somente em 2020 sete PMs foram mortos no Piauí após reagir a um assalto. Em alguns casos as armas foram levadas pelos criminosos.
A missão é complicada, mas de certo não será resolvida com uma pistola na mão de cada brasileiro. Bandidos agem na surpresa e isso faz toda diferença entre a vida e a morte em uma situação de conflito. Bolsonaro apenas afaga o lobby da indústria de armas e joga para a sociedade a solução de um problema que não será resolvido. Neste faroeste caboclo vidas inocentes se perdem achando que valeu à pena morrer ou ficar sequelado, desde que tenha reagido sustentado por uma falsa sensação de segurança.
Fonte: Wesslley Sales